Não há dúvida de que a Europa e o resto do mundo enfrentam uma grave crise de fertilidade. Em 2022, a taxa de fertilidade total na União Europeia (UE) era de 1,46 nados-vivos por mulher, taxa que em Portugal era ainda mais baixa com 1,43 nados-vivos por mulher. No entanto, o nível de substituição necessário para manter os níveis populacionais europeus são de 2,12. A médio prazo, isto significa que a população da Europa ficará mais pequena e os europeus mais velhos. Deste modo, devido à baixa taxa de fertilidade nacional e europeia, poderemos assistir a uma escassez de mão de obra, a sistemas de proteção social insustentáveis, a um declínio do nível de vida e à perda de competitividade global.
Por conseguinte, os fatores socioeconómicos e de saúde que estão na origem do declínio da taxa de natalidade na Europa devem ser identificados e resolvidos rapidamente. Assim, os signatários deste Manifesto pretendem tornar a saúde reprodutiva uma prioridade, a nível nacional. Para que a saúde reprodutiva e, em particular, a fertilidade, se tornem uma prioridade nacional, é necessário ter em conta alguns aspetos: conhecer a realidade portuguesa e considerar as opiniões da população sobre estas questões.
Em Portugal, 9 a 10% dos casais sofrem de infertilidade ao longo da vida. Os resultados do último estudo realizado em Portugal, o Estudo Afrodite (2009) permitiram concluir que entre 260 a 290 mil casais portugueses sofrem de infertilidade e mais de 100 mil podem necessitar de tratamentos. Na altura, verificou-se que 1 em cada 10 casais portugueses relatava dificuldades relacionadas com a fertilidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022, a nível global, 1 em cada 6 casais indicou enfrentar problemas de fertilidade.
Com base nestes dados e de acordo com uma previsão da SPMR, é possível inferir que a realidade portuguesa, em 2024, possa ter evoluído para um cenário mais próximo do observado atualmente no contexto global. É necessário ter em conta fatores como as preocupações económicas, a escassez de apoios para o planeamento familiar e as condições laborais desfavoráveis, que continuam a levar muitas pessoas a adiar o projeto da parentalidade, verificando-se um impacto significativo na saúde emocional dos jovens, diminuindo a sua vontade de ter filhos.