Recomendações da SPMR decorrentes da pandemia Covid-19 (ACTUALIZAÇÃO)

No dia 16 de março, face à evolução da infeção COVID-19 em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução emitiu um comunicado com um conjunto de recomendações, que enviou por e-mail a todos os seus sócios e que se encontra publicado na nossa página da internet. Dois dias depois foi decretado o estado de emergência no nosso país e recomendado o distanciamento social a toda a população. Passadas que foram cerca de 2 semanas, temos assistido a uma progressão muito significativa da doença na maior parte dos países da Europa, Portugal incluído, com mais de 9.000 casos confirmados no nosso país e 209 mortes a lamentar.

Perante esta realidade, consideramos que é chegado o momento de fazermos uma atualização de alguns aspetos que nos parecem relevantes para a prática da procriação medicamente assistida (PMA) em Portugal:
  • Efeito da infeção sobre o feto: apesar de, até à data, não haver uma evidência clara de transmissão vertical do SARS-CoV-2, também não é absolutamente seguro que tal não possa acontecer. Tratando-se de um novo vírus, devemos ser prudentes nas nossas conclusões e aguardar pela consolidação da informação sobre esta possibilidade, que até ao momento é ainda bastante frágil. Por outro lado, embora moderadamente otimistas sobre um possível impacto do vírus no 1º trimestre da gravidez, não podemos esquecer que as grávidas que foram infetadas na sua fase inicial de gravidez na China só vão ter os respetivos nascimentos entre os meses de julho e agosto. As próximas semanas serão importantes para a obtenção de informações sobre a forma como vão evoluir essas gravidezes, de forma a consolidar esta informação;

  • Efeito da infeção sobre a grávida: as grávidas têm uma diminuição da sua imunidade natural e, por consequência, são frequentemente consideradas um grupo de risco para a generalidade das doenças infeciosas, como é o caso da gripe sazonal. Felizmente, no caso da COVID-19, a evolução clínica não parece ser diferente da de mulheres não grávidas, da mesma idade e com as mesmas condições de saúde. Importa, no entanto, salientar que, alguns dos fármacos anti-retrovirais que estão a ser usados no tratamento da COVID-19 têm a sua utilização contra-indicada na gravidez, facto que pode influenciar negativamente a evolução da doença. Por outro lado, nos poucos estudos até ao momento disponíveis, têm-se registado um maior número de partos pré-termo e de rotura prematura de membranas em mulheres COVID-19 positivas (um estudo realizado na China e que versou este tema concluiu que o parto ocorreu antes do termo em 15 de 44 grávidas infetadas - 34%).

  • Risco de contaminação de gâmetas e embriões pelo SARS-CoV-2 nos laboratórios de PMA: embora não possa ser excluído de forma perentória, esse risco parece ser muito improvável, uma vez que, os gâmetas e os embriões não têm recetores onde o vírus se possa ligar. Por outro lado, os cuidados laboratoriais já habitualmente aplicados às técnicas de PMA são de tal forma rigorosos para a generalidade das infeções, que nos levam a acreditar que esse risco é bastante baixo.

  • Para além destes pontos que, por si só, já recomendariam uma atitude de total prudência relativamente à manutenção dos tratamentos de PMA nesta fase da evolução da pandemia, todos temos o dever moral de acatar o pedido de distanciamento social que nos foi solicitado. A manutenção dos tratamentos implicará, inevitavelmente, uma maior exposição dos doentes e das equipas de PMA ao vírus. É nosso dever evitar todas as condutas, nomeadamente as passíveis de adiamento, que possam contribuir para um aumento da sobrecarga do nosso serviço nacional de saúde com doentes COVID-19.
Por todas estas razões, a SPMR vem por este meio reforçar as recomendações emanadas do seu comunicado do dia 16 de março de 2020, nomeadamente:
  • Não iniciar qualquer tratamento de fertilidade, com ou sem recurso a técnicas de PMA (exceção para a criopreservação de gâmetas ou embriões em contexto de doença oncológica, cujo caráter pode ser inadiável).
  • Concluir todos os ciclos de FIV/ICSI já iniciados que estejam na sua fase final de tratamento.
  • Diferir as transferências de embriões.
  • Cancelar todos os outros tratamentos de fertilidade já iniciados, envolvendo ou não o recurso a técnica de PMA.
Estamos certos de que os nossos concidadãos merecem esta atitude por parte de toda a comunidade da Medicina da Reprodução Portuguesa e que, seguramente, todos os profissionais de saúde que atualmente combatem esta pandemia em condições extremas nos agradecem.
A Direção da SPMR manter-se-á atenta à evolução da pandemia e a toda e informação científica que permita revogar ou alterar esta recomendação no mais breve espaço de tempo.
 
A Direção da SPMR
  • Data
    3 de abril de 2020

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